POR QUE AVALIAR?
Essa pergunta é fundamental, mas […]
15 de março de 2021Essa pergunta é fundamental, mas […]
15 de março de 2021Essa pergunta é fundamental, mas não vem sozinha. Por quê, o quê, quem e como avaliamos são questões que toda escola deve se fazer para poder estabelecer sua cultura avaliativa. Como nos diz Darcy Ribeiro, a cultura é o conjunto de saberes e manifestações de um grupo social, segundo seus interesses, seus valores e suas crenças. Ou seja, há um aspecto fundante da cultura de uma comunidade que paira no campo das ideias. Assim, o primeiro passo é olhar para dentro da instituição e esclarecer: quais são as concepções de aprendizagem, de aluno, de professor e de educação que a cultura escolar manifesta na sua prática pedagógica? Quais são as ideias de avaliação?
O segundo passo seria, então, transformar em prática as ideias que concebeu. Vamos a algumas ideias e algumas práticas.
POR QUÊ?
Em muitas escolas, a realidade ainda é a de avaliar para atribuir nota. E isso está errado? Não. Mas é o único objetivo? Não, também. Então, por quê?
Esta resposta pressupõe uma mudança de paradigma importante – a escola tradicional avaliava o aluno; uma escola inovadora acompanha aprendizagens. Lilian Bacich nos ensina, ao falar sobre escolas inovadoras, que “achismos” não podem reger as nossas ações. Assumir que o aluno aprendeu apenas porque foi capaz de acertar as questões da prova não é suficiente. Isso vale para aqueles que não tiveram uma boa nota – não é suficiente saber que o aluno não aprendeu; é preciso agir sobre isso.
Sob essa perspectiva, a avaliação é um instrumento que permite ao professor fazer intervenções, planejar e acompanhar o desenvolvimento de seus alunos. Trata-se, portanto, não mais de uma ação avaliativa, mas de um processo de avaliação contínua, que ocorre dia após dia, em diferentes formatos, e que contempla também habilidades e competências.
Podemos, então, dizer que avaliamos para melhorar a aprendizagem e para ensinar melhor.
O QUÊ?
Com esse olhar, fica claro que o que está sendo avaliado não é, como já dissemos, o aluno, mas a aprendizagem.
“Mas não é o aluno que aprende?”
Sim, mas, ao mudarmos o foco da avaliação, mudamos também o foco de nossa atuação como educadores. Ao acompanhar as evidências de desenvolvimento e construção de conhecimento de nossos alunos, podemos planejar as intervenções necessárias para que a aprendizagem continue acontecendo ou para que aconteça de forma mais eficiente.
QUEM?
Cabe aqui refletirmos sobre quem avalia e quem é avaliado. Mais uma vez, temos um contraponto entre a avaliação tradicional e uma proposta de avalição em processo; entre avaliar para verificar retenção de informações e avaliar para desenvolver habilidades e competências; entre avaliar para atribuir nota e avaliar para fazer intervenções.
A lógica por trás dessa nova prática é a de que se o aluno não aprendeu, o professor não ensinou. Não é possível dizer que houve ensinagem se não houve aprendizagem. Ensinagem? Sim. Ensinagem diz respeito ao processo completo de ensino-aprendizagem (o que e como ensinamos, e o que e como avaliamos), num movimento orgânico, sem fragmentações.
Neste novo cenário, alunos e professores avaliam e são avaliados constantemente. Avaliam uns aos outros e a si mesmos (autoavaliação), por meio de diversos instrumentos e em diversos momentos. Assim, o professor deixa de ser aquele que passa as informações para se tornar aquele que trilha, junto com seus alunos, seu percurso de construção de conhecimento.
COMO?
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), “a avaliação do desempenho do aluno deve ser contínua e cumulativa com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”. Isso pressupõe uma avaliação processual, que ocorre ao longo de todo o ciclo e com intervenções constantes do professor, dando ao aluno múltiplas possibilidades de desenvolvimento, uma vez que já sabemos que cada pessoa tem seu próprio ritmo e estilo de aprendizagem.
Ao longo desse processo, três tipos de avaliação podem ser contemplados: Diagnóstica, Formativa e Somativa.
Muitos professores podem estar se perguntando: como fica, então a nota final, já que esta é uma exigência para a aprovação do aluno? Como foi dito no início, não é preciso abolir as provas ou as notas, mas sim refletir sobre como fazer isso. Que tipo de prova vou elaborar? Que perguntas vou fazer? Que tipo de conhecimento ou habilidade o aluno precisará mobilizar ao realizar a prova?
Vale aqui lembrar uma grande preocupação manifestada por diversas escolas que realizaram provas online durante as aulas remotas de 2020: como evitar que os alunos “colem”. Só há dois motivos para os alunos “colarem” nas provas. O primeiro é se tiver o que “colar”, ou seja, se a pergunta for objetiva e tiver apenas uma resposta correta. O aluno busca a informação e a registra tal qual a encontrou. Em contrapartida, podemos elaborar questões mais analíticas, em que o aluno precisa colocar seu ponto de vista ou entendimento sobre aquilo que foi trabalhado em aula, dando foco mais qualitativo à prova.
O outro motivo para a “cola” é o fato de o aluno entender que a avaliação é para o professor, e não para si mesmo. A prova também pode ser um instrumento para guiar seu percurso de aprendizagem se for parte da composição final da nota. Ou seja, a média é enriquecida com notas atribuídas a diversas produções feitas ao longo daquele ciclo, e não medida em um único momento. Em lugar de apenas provas, o professor utiliza a observação diária e os instrumentos variados, escolhidos de acordo com cada objetivo.
ENTÃO…
Depois de refletir sobre por quê, o quê, quem e como avaliar, vale a pena fechar resgatando o conceito de diferenciação. Quando nos perguntamos “quanto” um aluno deve saber, a resposta deve ser: depende. Depende dos seus conhecimentos prévios, do quanto aquele saber lhe desperta o interesse, do seu estilo de aprendizagem, de quanto o desafio é adequado a ele (ZDP) e de muitos outros fatores, cognitivos ou emocionais.
A diferenciação pedagógica diz respeito ao reconhecimento da diversidade dos alunos, à possibilidade de todos e de cada um atingir sua máxima potencialidade. Ensinar de modo que todos possam aprender, atendendo às necessidades de cada aluno. Perrenoud chama isso de discriminação positiva e alerta: igualdade de oportunidades não garante igualdade na aprendizagem. É, portanto, a ação do professor que vai possibilitar não a igualdade, mas a equidade.
Por isso trazer para a nossa prática, além da avaliação somativa, as avaliações Diagnóstica e Formativa: porque são instrumentos poderosos para a diferenciação pedagógica. Quanto mais e melhor soubermos sobre os saberes de nossos alunos, mais e melhor eles poderão aprender.
NÃO ESTAMOS SÓS
Nossos parceiros para as avaliações externas oferecem às escolas instrumentos que podem auxiliar a colher dados importantes para que o professor possa ter um panorama das aprendizagens de seus alunos, e, assim, planejar suas intervenções.
Aplicação 2021: (10/5 a 18/6 – Ciclo 1)
Aplicação 2021: (22/2 a 26/3)
NATHALIE BAHARLIA
Nathalie Baharlia é coach pedagógica do Projeto UNO educação. Cursou Psicologia, Pedagogia e MBA em Gestão Escolar. Atua há mais de 20 anos na Educação Básica e tem experiência em escolas de currículo brasileiro e bilíngue. Tem vivência em cursos internacionais, como Reggio Emília, e trabalho com formação de professores das redes pública e privada.